Começou o ano para o governo espanhol. Algumas caras novas, alguns problemas novos e outros que permanecem como se o tempo não tivesse passado.
Meritxell Batet, presidenta do Congreso de los Diputados, abriu os trabalhos na segunda dia 13 destacando a importância de chegar a acordos. Muitas vezes quase impossível, sem embargo uma obrigação aos membros do legislativo, em prol do desenvolvimento do país.
Seria de fato fabuloso que todos trabalhassem com medidas que mirassem o bem estar da cidadania e não picuinhas partidárias. Não foi, infelizmente, o visto na primeira sessão de controle do novo período parlamentar. A grande novidade estava nas cadeiras azuis, reservadas aos ministros: após a reforma ministerial de julho, Pedro Sánchez Castejón tem agora imediatamente ao seu lado Nadia Calviño, Yolanda Díaz e Teresa Ribera – três vice-presidentas. Debutavam no cargo – já encarando o hemiciclo – a ex-presidenta do Senado e agora ministra de Justiça Pilar Llop, Isabel Rodríguez, que além de política territorial é porta-voz do governo, e Raquel Sánchez, de Transportes e Agenda Urbana.
O presidente do governo e o líder da oposição, Pablo Casado Blanco, mantiveram exatamente o mesmo roteiro escrito quando o socialista assumiu. É quase um “gordo&magro”, no qual esse enxerga o copo meio vazio e aquele meio cheio. Para contestar Santiago Abascal igualmente não carece muita criatividade, já que suas interpelações seguem apegadas aos “inimigos da Espanha”. Sem dúvida o embate mais dinâmico foi produzido por Yolanda Díaz e Teodoro García Egea, sobre o preço da luz.
Essa, inclusive, é uma das pautas novas: desde julho valor da conta de energia não para de subir, quebrando recortes quase diariamente. O último, em 15 de setembro, alçou 188€ o megawatt/hora. É uma das maiores preocupações do país hoje, já que seu preço termina por acarretar aumentos em outros setores, como aluguel ou supermercado. Tal aumento decorre do aumento do preço do gás no mercado externo – países como Itália também enfrentam, ali a gasolina por exemplo chegou a 1,65€ o litro.
Vale lembrar que a Espanha não possui uma empresa pública para o setor elétrico. A Endesa, Empresa Nacional de Electricidad, foi privatizada nos anos 90; hoje é uma das três gigantes do setor no país, ao lado de Iberdrola e Naturgy, que juntas controlam praticamente todo mercado. Todavia esse oligopólio não passa por um “mal momento” se analisados os dividendos distribuídos, algo que o sócio de governo Podemos pretende intervir para controlar os preços – condenado pela oposição, bem como costumam ser quaisquer atitudes que firam o “livre mercado” venerado por adeptos do culto neoliberal.
O tema Catalunha volta à tona coa realização, por fim, da tão falada mesa de diálogo. A primeira, no mesmo dia 15, colocou frente à frente os quase xarás Pedro Sánchez e Pere Aragonès, do Erc, presidente da Generalitat. Antes disso, a ampliação do aeroporto de Barcelona já havia sido motivo de desavença entres ambos. A reunião mostrou distância entre projetos, porém aponta para a via do diálogo – rota que os sócios de investidura Junts e Cup rechaçam. O veto à presença de nomes que não integrem o executivo provocou (mais) uma indisposição entre republicanos e “juntistas”. Horas antes a mesa foi duramente criticada por Edmundo Bal, do Ciudadanos, na sua pergunta a outro estreante, Félix Bolaños, ministro de Relaciones con las Cortes.
A ascensão da violência homófoba é outro grande problema a ser encarado. Há uma crescente onda de crimes motivados por orientação sexual e a violência machista é outra praga que insiste em não desaparecer. Casualmente, a pergunta sobre banalização de delitos de ódio partiu de Macarena Olona Choclán, deputada do Vox. Sua indagação, contudo não tinha nada que ver com direitos de qualquer minoria, e sim com seu próprio partido, constantemente ligado a discursos de ódio.
Um fato ocorrido em Madri, uma suposta agressão a um jovem homossexual, posteriormente desmentida, foi a desculpa para que toda e qualquer violência a esse coletivo passasse a ser desqualificada. É como se uma mentira bastasse para 100 verdades serem simplesmente ignoradas. Curiosamente, neste mesmo caso, antes de desmentido, já se culpava (claro) imigrantes por sua autoria – mesmo que o relatório do Ministério do Interior mostre que quase 80% são cometidos por nacionais.
O aumento do salário mínimo é outra pauta complexa, guardada na gaveta de discrepâncias entre Psoe e Podemos. A tendência é que se aprove uma subida de 15 euros, levando o mínimo ibérico a 965€. Toda maneira, a recuperação da economia é tratada com bons olhos pelo presidente do governo, muito por conta das ajudas vinda da União Europeia. Bem como o ritmo de vacinação: 75% da população já tomou as duas doses, um dos índices mais altos do continente.
As contas públicas também precisam ser aprovadas, porém para estas não bastam os votos dos sócios de governo. Para manter a maioria relativamente confortável da última votação, os presupuestos generales de estado devem contar com apoios de distintas formações, o que exigirá muita negociação. Os votos contrários, ao contrário, já estão assegurados.