Os próximos passos da política espanhola

Após as eleições gerais do último domingo, a Espanha precisa chegar a um acordo de governo. Se num primeiro momento nenhum caminho parecia ter saída, hoje uma coalizão parece ter melhor futuro do que no pleito de abril.

28 de abril de 2019. Na tabela do campeonato espanhol, com nove pontos de vantagem sobre o segundo colocado, Barcelona caminhava tranqüilo para aquele que seria seu 26o título nacional. Hoje a situação é bem diferente: apenas dois pontos separam os culés e o Real Madrid do quinto colocado, a Real Sociedad – e os catalães em apenas 13 rodadas tem as mesmas três derrotas que em todo campeonato passado.

Em outro campo, o da política, as coisas estão igualmente deveras distintas. Em 28 de abril os espanhóis foram às urnas escolher o novo presidente del gobierno – pela quarta vez em quatro anos. O Partido Socialista Obrero Español (PSOE) foi o grande vencedor, com 123 assentos no Congreso de los Diputados, quase o dobro do segundo mais votado, Partido Popular (PP). Àquela ocasião destacavam-se também a queda do Podemos, partido de esquerda, ascensão do Ciudadanos, centro cada vez mais inclinado à direita, como terceira força, e entrada do ultraconservador Vox, ainda que com menos força que o esperado.

A matemática simples permitia a eleição por parte da corte de Pedro Sánchez, do Psoe, contanto com o apoio do Podemos e abstenção dos partidos nacionalistas, como Esquerra Republicana de Cataluña (ERC) e Partido Nacionalista Vasco (PNV). Todavia a racionalidade dos números não reflete necessariamente a vida real, e a incapacidade dos dois principais partidos progressistas em formar um governo de coalizão trouxe novas eleições à Espanha. E em 10 de novembro a situação mudou bastante.

Ainda que siga coa maior bancada, Psoe perdeu três assentos, quando esperava ampliar o número de deputados para facilitar a investidura de Sánchez. Se em abril Pablo Casado amargou uma queda significativa, o PP dessa vez recuperou espaço elegendo 88 deputados. Outrora terceira força, Ciudadanos obteve um resultado catastrófico, caindo de 57 para 10 assentos – sexta bancada – fato que levou ao líder e fundador Albert Rivera a renunciar e retirar-se da vida política. Vox teve a ascensão que não veio em abril, saltando para 52 eleitos e consolidando como principal rival do PP na oposição. Podemos sofreu outra queda, elegendo 35 deputados. ERC, de Gabriel Rufián, com 13 perdeu um; enquanto Junts per Catalunya (JxCat) de Carles Puigdemont (presidente da Generalitat da Catalunha no referendo de independência fracassado de 2017) ganhou um, tendo agora grupo de oito deputados.

No País Basco cada partido conquistou um assento a mais: PNV tem agora sete e Euskal Herria Bildu (EH Bildu) seis. O número de partidos com presença no Congresso também foi ampliado. Coalición Canária e Navarra Suma seguem com dois deputados, bem como um representante do Partido Regionalista de Cantabria (PRC). Compromís em novembro se apresentou junto ao Más País – desdobramento nacional do Más Madrid, partido do fundador e ex-Podemos Íñigo Errejón. Com três deputados apenas a formação ficou aquém da expectativa de formar um grupo parlamentar. Estréiam igualmente a Candidatura de Unidade Popular (CUP), da Catalunha, com dois representantes; e Bloque Nacionalista Galego (BNG) e ¡Terual Existe! (plataforma criada em uma das regiões mais afetadas pelo êxodo rural) com um cada.

Chegada dos principais candidatos no único debate eleitoral

Passado o pleito, cabe agora a formação de um governo. Na noite de domingo, com os primeiros resultados, o bloqueio parecia seguir, pois além de não haver maioria absoluta as negociações anteriores não apontavam direção a governo algum – falava-se de tudo, até um possível acordo entre Psoe e PP para haver governo. Pois na última terça-feira Socialistas e Unidas Podemos acordaram um governo de coalizão com Pablo Iglesias como vice-presidente. O que não aconteceu em seis meses se materializou dois dias após o crescimento da ultradireita – Vox, após pactar com PP e Ciudadanos, governa hoje a Andaluzia (então a primeira vez que os socialistas não venciam na região) e na cidade e comunidade de Madrid, por exemplo.

O PRC foi o único partido a apoiar Sánchez na investidura de abril. Agora os socialistas somam também 35 de Podemos, três de Más País, possivelmente PNV e algum outro partido nacionalista minoritário. Todavia não lograria maioria absoluta, ainda assim dependo da abstenção de ERC ou JxCat. Na última investidura Gabriel Rufián colocou seu grupo a favor de um governo de coalizão Psoe-Podemos com sua abstenção – bem como Aitor Esteban do PNV. Hoje, todavia, o julgamento dos políticos catalães já aconteceu e quase todos foram condenados com penas em torno de 10 anos. O peso da questão catalã agora deve ser maior e as negociações não devem ser simples.

As nova legislatura começa no dia 3 de dezembro. 17 acontece a primeira votação, na qual é necessário maioria absoluta – algo que não deve acontecer. Sendo assim dois dias depois há uma nova rodada, bastando maioria simples, cujo peso da abstenção pode significar formar ou não formar governo. Com resultado positivo, a partir do dia 20 o grupo escolhido começa a governar. Que dessa vez os espanhóis não tenham que ir às urnas pela terceira vez consecutiva.

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